14 de março de 2010

Extra: Cinderela da cadeira de rodas

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Alinne Moraes sofreu e chorou 
muito, como a Luciana de


'Viver a vida': Alinne Moraes entrou em depressão junto com Luciana


Bastam alguns poucos minutos dentro do estúdio de “Viver a vida” para perceber a descontração que toma conta das gravações quando Alinne Moraes está em cena. As brincadeiras, piadas e gargalhadas ao lado dos colegas de elenco refletem o momento vivido por sua personagem, que está cada vez mais feliz com Miguel (Mateus Solano) e à vontade na cadeira de rodas. Mas nem sempre foi assim: o clima era outro, pesado, na época do acidente que deixou Luciana tetraplégica na novela. A atriz, de 27 anos, revela que se deixou contagiar pela depressão da modelo na trama. Sofreu e chorou muito, de verdade, com ela.
Foi o momento mais difícil que vivi como atriz — conta Alinne, num camarim do Projac, no intervalo entre uma cena e outra: — Fiquei mal mesmo, estranha. Sempre trabalhei muito bem sob pressão, mas foi muito, foi demais pra mim. Não sabia que seria tão denso, pensei que seria mais simples. Não consegui sair facilmente da depressão em que Luciana me colocou.

Mais difícil do que ela imaginava

O sofrimento começou logo depois que Luciana sofreu o acidente. A atriz teve que gravar durante vários dias numa maca, imóvel, usando máscara de oxigênio de verdade. Tarefa complicada para quem, como ela, não para quieta um minuto e não consegue falar sem gesticular. Além disso, Alinne também aparecia coberta por dois lençóis — solução para o frio do estúdio, que virou pesadelo nas externas seguintes, sob o sol escaldante do verão carioca.

Alinne Moraes numa cena com Taís Araújo
 logo após o acidente de Luciana / Crédito: Renato Rocha Miranda / 
divulgação TV Globo

Graças a Deus não tenho fobia, mas começou a me dar. Porque eram dez horas seguidas gravando assim, toda presa com aqueles cintos da maca. Como sou magra, meu cóccix doía. E não podia me mexer — lembra ela: — Foi aí que vi que seria muito mais complicado do que eu imaginava.
Com a enorme quantidade de gente ao seu redor nas sequências pós-acidente — médicos, parentes e amigos de Luciana —, a atriz se sentia sufocada, sem espaço para respirar.

‘Eu me sentia o Incrível Hulk’

Eu era o objeto da cena. Ou eles estavam falando comigo, ou me tocando, me pegando. A sensação que me dava todo dia quando eu saía do Projac era de que precisava ficar sem falar com ninguém, que ninguém podia me tocar! Eu me sentia o Incrível Hulk! Sabe quando você está numa roupinha muito apertada, muito apertada, e você aaaaah... — exclama ela, mexendo-se como se tentasse arrancar uma camisa de força: — Cara, era insuportável, insuportável. Eu começava a suar, era uma sensação péssima.

Alinne Moraes numa cena de

Quando Luciana saiu da maca e foi para a cama, a situação de Alinne não melhorou muito: ela ainda ficou mais quinze dias gravando sem se mexer.

O elenco não percebia e acabava sentando em cima do meu pé, colocava café quente, texto em cima de mim. Era até engraçado, virei um apoio — conta.

Sua entrega ao trabalho foi tanta que, em alguns momentos, a atriz chegou a reagir como se fosse mesmo sua personagem. Na cena em que Luciana ficava sabendo que estava tetraplégica, por exemplo, teve taquicardia de verdade: seu corpo tremia inteiro. Precisou ser amparada por Lília Cabral e José Mayer, que vivem Tereza e Marcos, seus pais na novela.

Alinne Moraes 
chegou a achar que não daria conta do trabalho em


Nesse período turbulento, a atriz chegou a acreditar que não daria conta do recado — e conversou sobre isso com os colegas mais próximos, principalmente Mateus Solano, intérprete dos gêmeos Miguel e Jorge. Voltou até a fazer terapia para tentar entender todo o processo. Uma ajuda essencial que, segundo ela, agora já não é mais necessária. Por incrível que pareça, dirigir seu próprio carro a ajudou nesse desafio de separar a Alinne da Luciana.

Adoro dirigir. Mas estava usando o motorista da produção porque meus horários estavam muito loucos, tinha que usar o tempo de deslocamento para decorar os textos. Com isso, deixei de ser independente, a Alinne também passou a depender das pessoas — relata ela: — Quando percebi o quanto isso estava me fazendo mal, voltei a pegar meu carro. Acho que começou a me libertar um pouco, era algo que me desligava da personagem.

Tanto desgaste — físico e emocional — acabou rendendo à atriz sua primeira internação num hospital, em janeiro passado. Justamente quando Luciana começava a redescobrir sua felicidade, Alinne teve uma grave crise renal e precisou ficar cinco dias de molho.

Alinne Moraes diz que esqueceu um pouco 
dela mesma / Crédito: Fábio Guimarães

Com certeza, eu somatizei tudo. Mas claro que não foi só isso. Tenho histórico de problemas renais. Com 9 anos, tive pedra no rim. E também fiquei muitas horas deitada nas gravações, acabava esquecendo de beber água, esquecendo um pouco de mim. Eu estava vivendo muito a Luciana, focada muito nela — afirma a atriz.

Todo esse relato das dificuldades que experimentou passam longe de uma reclamação. Alinne não está nem um pouco arrependida de ter aceitado o desafio de interpretar uma tetraplégica. Está, sim, agradecida por ter recebido do autor Manoel Carlos e do diretor Jayme Monjardim a chance de mostrar todo o seu talento:

Foi até mais do que eu merecia!

A fase de dedicação exagerada, assegura a atriz, já passou. Mas a vida não voltou exatamente ao normal. Hoje, Alinne convive com as dores de quem passa horas gravando numa cadeira de rodas, com os ombros travados e os punhos fechados — como uma tetraplégica que ela não é. E sem tempo de pedir ajuda a uma massagista. Por conta do cansaço e da agenda lotada, tem saído pouco de casa. Uma rotina que a faz lembrar da época de modelo, quando ia trabalhar no exterior, no inverno rigoroso. Um período solitário.

Alinne Moraes em cena na cadeira de rodas / Crédito: Fábio 
Guimarães

As pessoas não estão me entendendo muito. Não estou conseguindo dividir esse meu processo com ninguém. Além disso, o cansaço está muito grande, então acabo ficando em casa mesmo, sozinha. Não consigo ver os amigos nem mesmo meu namorado. Quando conseguimos nos ver, o colo dele é perfeito, mas tem sido raro mesmo estar livre — conta a atriz, que está há um ano com o empresário e barman Rodrigo Mendonça, de 29 anos: — Meus dois cachorros têm me ajudado. Sempre que chego, tenho a necessidade de passar a mão, ficar um pouco com eles, antes de tomar um banho e voltar a estudar os textos.

Alinne admite que está mais quieta, menos ansiosa — e essa deve ser uma das mudanças que levará para a vida, em meio a toda essa intensa experiência adquirida fazendo a novela das 21h.

É muito louco isso porque, para a personagem, o lema ideal seria: “vamos viver tudo porque a gente não sabe o dia de amanhã”. Sempre pensei assim, mas não estou mais como eu era — diz ela, antes de contar que seu primeiro siso está nascendo: — Pode parecer uma besteira isso, mas minha mãe diz que esse é o dente do juízo (risos).

Miguel e Luciana dão o primeiro beijo: eles terão filhos 
gêmeos / Crédito: Renato Rocha Miranda / divulgação TV Globo

Uma sequência que está por vir na novela, porém, consegue despertar novamente a ansiedade da atriz. Na verdade, sequências: as da gravidez de Luciana, que terá gêmeos com Miguel. Não só porque será um momento mágico para a personagem, mas porque Alinne também já pensa em estrear no papel de mãe. De preferência, antes de completar 30 anos, o que acontecerá em 2012.

Nunca fiz cena grávida, de barriga. Sempre imaginei como seria fazer uma cena de parto. Ainda mais agora, que meu relógio está apitando. De uns dois anos pra cá, não posso ver criança que fico literalmente com água na boca! — revela.

Cinderela na cadeira de rodas

Os filhos gêmeos de Luciana já estavam previstos na sinopse de “Viver a vida” — assim como todo o resto da história de amor com Miguel, com direito a lua de mel em Paris, cujas cenas foram gravadas antes mesmo da estreia da novela, lá mesmo na Cidade Luz. Um detalhe desta trajetória, no entanto, o autor Manoel Carlos conseguiu manter em segredo: a modelo vai ou não voltar a andar? Alinne Moraes não hesita ao dar sua opinião.

Miguel e Luciana na da lua de mel em Paris, gravada em junho do ano
 passado

Ela não deve andar. Um monte de garotas e adolescentes que não tinham com quem se identificar estão se identificando com a Luciana. Muitas estão parando para reavaliar a própria vida, para entender que podem, sim, sair à rua, podem, sim, tentar modificar a cabeça das pessoas para que elas sejam enxergadas como devem ser. A Luciana é a Cinderela da cadeira de rodas — define Alinne: — Se ela voltar a andar, todas essas meninas vão achar que a felicidade delas está nisso. Por isso, adoraria que Luciana ficasse na cadeira de rodas.

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