3 de setembro de 2017

Capa da ELA: Pela lente do amor (Set/2017)

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Não que a atriz Alinne Moraes, de 34 anos, seja desanimada. Muito pelo contrário. Mas é que seu marido, o cineasta Mauro Lima, de 49, é, segundo ela, animadíssimo.

Pareço mais velha do que ele — resume Alinne. — Claro que, ao conversar com o Mauro, logo se nota que ele é um homem vivido, um homem culto. Mas, no dia a dia, ele é muito leve, praticamente um garoto, que adora surfar... O Mauro tem muito mais pique e energia do que eu. Por ele, o dia teria 72 horas. Por mim, teria menos de 24. Quando estamos numa festa, dão três horas da manhã e eu já estou louca para voltar para casa. Quando estamos viajando, é a mesma coisa. Ele quer curtir todos os momentos. Me provoca a acompanhá-lo, e depois eu agradeço. A vida é boa ao lado dele!

O cineasta só tende a desanimar quando a ideia é que ele fique do outro lado das câmeras: não foi nada fácil convencê-lo a fazer o ensaio que ilustra estas páginas.

A famosa é ela... — esquivava-se.

Entusiasmada com a ideia de fotografar ao lado do marido pela primeira vez, a própria atriz buscou referências: imagens de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, o casal 20 dos anos 70. Alinne ajudou a selecionar as fotos que revelam o amor em preto e branco vivido pela atriz, cantora, escritora e musa e pelo compositor, cantor, ator, diretor e poeta, que se conheceram nas filmagens de “Slogan”, em 1968, quando ela tinha 22 anos e ele, 40.

Como poderia convencer o Mauro? Sugeri que fizéssemos uma brincadeira, para eternizar a nossa história — conta Alinne.

Um time de peso, então, foi escalado para a produção: o stylist Luis Fiod, o maquiador e cabeleireiro Silvio Giorgio e o fotógrafo Paulo Vainer — que vem a ser o diretor de fotografia do recém-lançado “João, o maestro”, filme com roteiro e direção de Mauro e participação de Alinne. As fotos foram feitas na casa de Paulo, em São Paulo.

Na realidade, estávamos cercados de amigos na equipe, e todos de muito bom gosto e competência — conta Mauro, diretor de “Meu nome não é Johnny” (2008) e “Tim Maia” (2014). — Eu tinha um pouco de trauma de experiências anteriores com matérias em forma de ensaio que fiz. Quando o ângulo é mais de editorial, acabo adquirindo um papel de “modelo”, o que considero praticamente uma piada. É raro um stylist, por mais que me conheça, me vestir de “eu mesmo” usando roupas que não são do meu próprio guarda-roupa. E também Alinne, sendo ex-modelo, me ajudou pra caramba. No fim, foi bem tranquilo.

Para deixar Mauro o mais à vontade possível, Luis Fiod elegeu um único look para o cineasta, que foi se despindo de algumas “camadas” no decorrer do ensaio. As trocas de roupa ficaram para Alinne, que vestiu peças refinadas e, ao mesmo tempo, despojadas.

— Virou foto para porta-retratos de família — brinca o stylist, amigo de longa data do casal. — Alinne e Mauro são muito cúmplices, e isso salta às fotos. Começamos a criar as cenas do ensaio usando as referências de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, mas acabamos nos inspirando no estilo de vida da Alinne e do Mauro, um casal super cool, referência em atitude, que não deixa de ser uma atualização da Jane e do Serge.

As três horas de fotos rolaram ao som de Miles Davis, John Coltrane, Thelonius Monk e de improvisações de Mauro e Paulo ao piano.

Impusemos nossos duetos a quatro mãos. Um bom nome seria “Os irmãos cara de pau”, não por citar o célebre filme, mas mais pela iniciativa — brinca Mauro.

Modéstia. O maestro João Carlos Martins, inclusive, elogia os arranjos feitos por Mauro para o filme:

Em duas passagens de tempo, há arranjos de músicas de Johann Sebastian Bach feitos pelo Mauro. Até provoquei dizendo que ia falar que eram meus, de tão lindos que ficaram.

Mauro teve contato com a obra de João bem cedo.

Quando entrei no jardim de infância,fui coleguinha de um filho dele. Como eu, ele estudou lá até o fim do primário. Eu tenho, portanto, uma memória bem longínqua dele como pianista clássico — conta o cineasta, referindo-se a Adinho, que no filme aparece na barriga da mãe.

Por sua vez, Alinne interpreta Carmen Valio, a mulher do maestro na segunda fase do longa:

Quem me chamou foi a própria Carmen. Mauro já estava no projeto, fui acompanhá-lo numa noite de autógrafos do maestro e ela me convidou. Fiquei muito feliz, é uma história preciosa.

É o segundo filme de Alinne e Mauro juntos — o primeiro foi “Tim”.

O processo foi absolutamente igual nos dois filmes. Como o Mauro também escreve o roteiro, acaba detalhando exatamente o que vai acontecer na cena, e não interage muito com o elenco. Isso para mim é novo e fascinante, dá frio na barriga — frisa Alinne. — O que quero dizer com isso é que foi até meio estranho, tivemos zero intimidade no set. Nem teve como misturar trabalho e casamento.

Juntos há seis anos, Alinne e Mauro não sabem precisar quando exatamente foram apresentados. Mas admitem que a admiração mútua já rolava há tempos.

Temos muitos amigos em comum, e já dava umas olhadas para ele. Mas o Mauro estava sempre namorando, e eu também… — lembra Alinne.

Ele dá a sua versão para os primeiros encontros com a atriz:

— Me recordo um pouco de quando eu já ligava o nome à pessoa. Ela fazendo papéis de sucesso, aparecendo em capas e TV, o povo papagaiando por aí “Alinne Moraes… Alinne Moraes…” (risos). Daí comecei a reparar quando encontrava ao vivo. Logicamente, sendo do mesmo meio, nos falávamos no “Oi, tudo bem?” de praxe. Me lembro que a via como uma presença impactante, quase como tendo uma bolha de silêncio, levemente ensurdecedora, ao redor dela enquanto se movia por aí. Como uma onça-pintada ou algum topo de cadeia alimentar.

Pedro, o primeiro filho do casal, está com 3 anos. Alinne conta que a sua vida tomou outro sentido com a maternidade.

O meu trabalho sempre esteve em primeiro lugar, eu era muito caxias. Depois que o Pedro nasceu, relaxei um pouco nesse aspecto. Descobri que havia outras coisas muito mais importantes me esperando em casa. Sem saber, eu sentia um vazio que foi preenchido com a família. Como filha, a gente não tem essa dimensão. Realmente você não ama os seus pais como eles te amam. Não adianta — analisa a atriz. — O Mauro me dá muito apoio. Sou muito forte do lado dele, como nunca fui. E aí consigo passar essa força para o meu filho.

Mauro também fala sobre esse tal vazio que sentia antes de Pedro nascer:

Lembro de ter pensado que alguns espaços vazios nas “prateleiras da minha vida” foram preenchidos de uma hora pra outra. Aqueles buracos grandes que você não entende muito bem.


Alinne e Mauro ainda não decidiram se vão ter um segundo filho.

Às vezes me dá muita vontade, às vezes acho desnecessário num mundo como esse. É uma decisão muito difícil. Gostaria, sim, de poder dar um irmão para o Pedro, mas a realidade é que tudo é delicado. É delicado educar. Eu não acho que é simplesmente ter outro filho na sequência. Estamos falando de outra vida — pondera Alinne. — E acho que, sim, gravidez quando é planejada é muito melhor. A minha foi, mas ainda não consigo programar uma segunda. Quando penso nisso é para daqui a dois, três anos... Mas aí vão dizer que será uma distância muito grande do Pedro. E lá existe receita do sucesso?

Depois de emendar dois papéis de destaque na TV Globo — a mocinha Lívia em “Além do tempo” e a vilã Diana em “Rock Story” —, Alinne tem curtido as férias como mãe, mulher e dona de casa.

Nos mudamos em novembro do ano passado e, como estava em gravação, ainda não tinha conseguido ajeitar a casa nova. Hoje, por exemplo, eu estava arrumando a prateleira dos livros. Tenho uma coisa séria com isso: as coisas precisam estar organizadas para eu conseguir me organizar também.

O primeiro armário a ficar organizado na casa nova, no Jardim Botânico, foi o de vinis. Alinne, Mauro e Pedro adoram escutar música juntos.

Vira e mexe, está tocando algo. Desde discos que eram do meu pai até meus que viraram do nosso filho — conta o pai. — Do meu pai, herdei muita coisa, inclusive boas coleções, como as edições do Marcus Pereira e até uma caixa de discos de 78rpm com standards dos aos 50. Pedro teve seu primeiro contato musical com uma eletrola portátil que a Alinne comprou. Quando me dei conta, ele estava ouvindo alguns singles e sacolejando. Em especial, me lembro do compacto de “Coming up”, do Paul McCartney, que ganhei de brinde numa loja com 13 anos, e outro de “Against the wind”, do Bob Seger, também da adolescência.

A família passa pelo menos duas temporadas por ano no apartamento que mantém em São Paulo — Mauro, nascido na capital paulista, se mudou para o Rio há 18 anos e Alinne, de Sorocaba, há 16.

Na verdade, não nos desgrudamos. Vamos juntos para todo canto. Outro dia, Mauro teve um trabalho no Sul, e lá fomos eu e o Pedro com ele. Não conseguimos passar muito tempo separados. E o Mauro não para, né?, já está roteirizando novos filmes...

São três novos projetos, ele conta:

“O homem de ouro”, um filme sobre o Mariel Mariscott, figura antológica e muitíssimo polêmica do Rio de Janeiro dos anos 60, 70. Estou trabalhando também numa série chamada “Cosa nostra”, sobre a máfia italiana e da Córsega no Rio em 71-72. E começando o projeto de um filme sobre a história do ex-jogador de futebol e comentarista Casagrande.

Fora os projetos em maturação, como o filme que planeja fazer com Alinne e com o ator e produtor Mauricio Branco. Amigo de Mauro desde os anos 90, Mauricio é fã do casal:

— O Mauro ficou mais sério depois que virou pai, mas não perdeu o rebolado. Ela, idem. Sou capaz de mudar a data da minha festa de aniversário para ter certeza da presença da Alinne. Em qualquer lugar que chega, ela incendeia o ambiente. Tem fogo naqueles olhos gigantes que parecem tudo ver.

Alinne e Mauro adoram ir a festas, mas uma vez por semana tiram um dia só para eles.

Uma relação acaba se você não namora. Acho que você só constrói uma família quando tem no seu companheiro um namorado, e quando a vida é gostosa, porque a vida de solteiro é tão boa que a de casado precisa ser melhor — teoriza Alinne. — Quando começamos a namorar, fizemos um trato: vamos ter que ter um dia na semana só nosso. Para sair para jantar, para dançar, para ficar em casa vendo um filme na TV... Isso foi bem antes de o Pedro nascer. Foi, praticamente, um contrato de casamento.

Alinne e Mauro, aliás, optaram por não casar de papel passado.

A gente não casou. A gente misturou nosso sangue! É muito mais forte — exalta ela. — Quando você assina um papel, escreve como vai se separar. Então acaba colocando no seu íntimo que, quando houver separação, será assim ou assado. Eu não quero casar para separar. Está maravilhoso do jeito que está.

Ao ser questionado em que sentido ela o inspira, Mauro se declara para Alinne:

Ela me inspira nos cinco sentidos… Seis, se quiser uma resposta mais esotérica.

























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