30 de julho de 2011

Entrevista| 'É uma sobrevivente', diz Alinne Moraes sobre Lili de 'O Astro'

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Ex-modelo e atriz com carreira consolidada, Alinne Moraes, 28, como se preparou para viver Lili, a encantadora personagem de "O Astro", a novela das 23h da Globo.
Lili está em um momento crucial: o empresário Salomão Hayalla (Daniel Filho) acaba de descobrir que a caixa do seu supermercado --por quem está apaixonado-- caiu de amores pelo seu próprio filho, Márcio (Thiago Fragoso).
Nas cenas do próximo capítulo, Lili vai ser demitida do supermercado de Salomão e se tornará taxista.
Leia a seguir a íntegra da entrevista exclusiva com Alinne Moraes, que recebeu a reportagem do F5 em um atribulado dia de gravações no Projac.
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F5 - Seu nome mesmo é com um ene apenas. Quando você colocou dois enes?
Alinne Moraes - Dois enes eu acabei colocando com 17 para 18 anos, eu tinha feito apenas uma novela e foi uma brincadeira. Eu tinha feito uma capa da revista "Capricho" para falar um pouco da personagem e aí comentei na entrevista que havia consultado uma numeróloga, que era amiga de uma colega, e ela havia dito que se eu acrescentasse um ene minha vida ia mudar e só iam acontecer coisas positivas. Eles colocaram na revista "Alinne, agora com dois enes". Eu acabei assumindo também porque eu era nova e não ia fazer muita diferença. Eu trabalhei como modelo com um ene e sempre trabalhei bastante. Foi mais uma brincadeira. Continuei com essa brincadeira porque eu não tenho tatuagem, mas eu costumo dizer que na vida as coisas que vão acontecendo vão tatuando a nossa vida.
Mas você é ligada nesse tipo de coisa?
Com 17 para 18 anos você é muito mais curiosa. Já fui muito mais. Já fiz mapa astral, já consultei taróloga... Mas eu vejo muito mais como autoconhecimento do que como premonição. Hoje em dia, não é que eu não creio --eu não costumo afirmar nada--, mas eu sou menos curiosa e sigo muito mais o meu coração. Se está tudo certo hoje, é porque eu estou no caminho certo. E gosto muito das surpresas que acontecem. Não tenho muitas dúvidas para tirar.
Tem-se falado que você está vivendo a sua primeira suburbana. Isso muda alguma coisa para você?
É a primeira numa obra longa. A Rosana, de "Coração de Estudante", foi um pouquinho mais próximo, que era mais batalhadora, uma mãe solteira que estava trabalhando e vivendo numa república. Fiz "As Cariocas" também, que era o episódio do Catete, e "Amor em 4 Atos", em que eu era uma prostituta da rua Augusta. Sem querer, eu fui pisando um pouquinho nesse universo e acho que no próprio texto já fica muito explícito, no histórico dela de família. Não precisei pesquisar muito, mesmo porque eu sou de Sorocaba, no interior de São Paulo, então acabo encontrando muito das coisas de bairro, sabe? Churrasquinho de rua, cadeira na frente da rua vendo a galera jogar vôlei, amarelinha, pedindo açúcar para a vizinha. Logo que eu cheguei no Rio eu morei seis meses no Méier também. Então dá para relembrar um pouquinho do que eu já vivi e emprestar para a Lili.
Então era um pouco do seu universo antes da fama?
Um pouquinho. Eu morava em um condomínio de apartamentos, meio que todo mundo era uma grande família. Eu estava sempre no meio da rua, minha avó gritava para eu entrar. Era um universo muito mais próximo da Lili do que a minha realidade atual. Minha mãe é mãe solteira, então saia para trabalhar, estudava à noite e chegava à meia-noite, então fui criada pela minha avó.
E essa história de Angelina Jolie da Penha?
As personagens costumam chamar a Lili de Angelina Jolie da Penha. Eu ri para caramba da cena. Tem a ver com a Lili, talvez. Acho que essa coisa do cabelo mais solto, a gente não quis ligar muito nas roupas mais coloridas, demos uma fechadas nas roupas dela, então é calça jeans, blusinha mais escura, uma coisa mais forte, uma boca mais forte em evidência. A gente tentou mesmo fazer uma Angelina Jolie da Penha.
Você acha que a sua boca tem a ver com a dela?
Acho que sim, um pouco.
A Lili está se envolvendo com o Salomão (Daniel Filho) e vai se envolver com o Márcio (Thiago Fragoso). Qual vai ser a diferença entre esses dois relacionamentos?
Com o Salomão, como ela não teve uma figura paterna muito presente, nem um irmão --a única presença masculina que ela teve foi o Neco (Humberto Martins)--, ela se sente muito desprotegida, sem carinho, ela não entende mesmo esse afeto, não consegue separar muito o que é o amor de um homem ou de um pai. Ela sai de toda aquela bagunça que é a casa dela, é colocada para fora de casa e do trabalho, então ela vê no Salomão um porto-seguro. Ela não assume de fato nada com o Salomão, mas é presença constante com ele porque ela se sente bem, se sente protegida, ela vê que ele é uma pessoa inteligente, culta, que faz ela rir. Ele é leve com ela. Não tem porque nesse momento de vazio em que ambos precisam de colo, eles não se encontrarem para dividir essa coisa mais fraternal. Agora, com o Márcio é paixão, é amor à primeira vista, é ligação, é uma coisa muito mais calorosa, uma relação de homem-mulher mesmo. Acho que pela primeira vez ela vai conhecer uma relação decente.
É mais uma personagem polêmica para a sua lista...
São várias coisas que vão acontecendo na vida dela e que vão pegando ela de sopetão. Cenas de meia página que você acha que vão ser uma passagem, você tem que reavaliar, porque nunca é uma passagem. São cenas muitas importantes. É uma mocinha que tem humor, mas é muito forte, ela dá a cara a tapa, ela se emociona, mas mais com raiva, principalmente quando duvidam da verdade dela, ela não tem muita piedade, é uma sobrevivente.
Como Lili, você passou por várias atividades. Era manicure, passou pelo caixa de supermercado e vai ser taxista. Teve alguma preparação para isso?
Como no salão ela fazia um pouco de tudo, máscara, escova, mão, pé, e a passagem da personagem pelo salão é muito rápida e eu já trabalhei com moda desde os 12 anos --onde querendo ou não você coloca a mão na massa--, eu deixei por conta do que a própria vida me ensinou. Eu mesmo faço a minha unha. Como caixa, também não precisei fazer laboratório porque a própria personagem na primeira cena está toda atrapalhada. A minha inexperiência ia ajudar a personagem nesse momento. Como taxista, eu acho que depois que eu já entendi a personalidade da personagem ficou mais fácil, deixar a história se desenrolar por si só. Essas cenas que vão vir agora estão sendo mais fáceis porque é a personalidade dela, ela com os passageiros. E eu amo dirigir, não largo mão do meu carro desde que tirei carteira. Vou para Sorocaba sempre dirigindo, seis horas e meia, sete horas de viagem. Adoro, o que facilita.
Você assistiu à primeira versão de "O Astro"?
Não assisti. Assisti a algumas cenas que eu pesquei, mas muito pouco. Como a novela é atual e mudou muita coisa, eu preferi deixar as coisas se desenrolarem, conhecer a história com a minha verdade e criar a minha Lili, do meu jeito, sem muitas influências.
Está preparada para as cenas de nudez?
São cenas muito mais delicadas, onde todo muito tem muito cuidado, deixam o mínimo de pessoas na sala, é muito conversado antes, é muito técnica, é muito um balé, para expor o mínimo possível do ator. É uma cena de muita exposição. A gente se sente meio estranho na cena. Então, tem que ser o mais cuidada possível, o mais conversada possível, o mais coreografado possível, porque a gente trabalha muito com a câmera, até para esconder adesivo, tapa-sexo e tudo mais. Aí tem o computador e dá uma ajudinha. A gente tenta chegar o mais próximo do real possível. São cenas mais delicadas, eu costumo sofrer um pouquinho.
Mas tem problema de fazer?
Não tenho problema de fazer, mas sempre acho que são mais delicadas.
No período em que foi modelo, passou por muitos perrengues no exterior?
Éramos eu, a minha mãe e a minha avó. A minha mãe não estava mais estudando, mas era funcionária pública. Quando eu fui para São Paulo para a primeira agência, eles pagaram o primeiro book e eu fiquei devendo. Meu primeiro trabalho foi uma campanha da Ellus, o segundo já foi uma capa da "Vogue". Comecei a trabalhar muito, então a gente mudou para São Paulo. Eu comecei a ver que a realidade de modelo era outra, que eu tinha que aproveitar o máximo possível. Então, com 14 anos eu já estava no Japão. Minha mãe não falava inglês nem eu. A única bota que eu tinha era de Sorocaba, enfrentando neve, fazendo teste para baixo e para cima. Minha mãe me acompanhou sempre até os 17. Na época, as mães acompanhavam todas as modelos. Giane [Albertoni], Gisele [Bündchen], Alessandra Ambrósio, Beatriz Barros, eram todas da mesma geração. Todas as mães ficavam juntas. Sábado e domingo a gente se reunia, fazia feijoada em Nova York, em Paris, em Milão... sempre juntas. Perto de todas as novidades que foram apresentadas para mim --meu mundo era muito pequeno--, não passei por tantas dificuldades. Ficaram muito pequenas.
Como você fez a transição do mundo da moda para a televisão?
Com 17 anos, eu estava voltando de Paris, em uma das viagens que eu fiz para lá. Voltei, comprei a minha casa --já tinha comprado a casa da minha família--, e estava montando, quando cheguei estava tendo um teste na minha agência para "Presença de Anita". O Avancini Filho, que estava procurando um rosto novo, esbarrou comigo na porta e eu tinha acabado de chegar, foi aquele alvoroço todo, chamou a atenção dele. Aí ele me perguntou se eu era atriz também e eu disse que não. Ele disse que eu era muito expressiva e perguntou se eu não queria fazer um curso de teatro mais para a frente. Eu falei que não estava nos meus planos, mesmo porque eu estava pensando em fazer arquitetura, ficar um pouco mais no Brasil, e aí passou. Ele levou um composite meu e passou. Quatro meses depois, quando já tinha terminado "Presença de Anita", ligaram para a minha agência e fomos eu, o Guilherme Berenguer, Michele Birkheuer, Paulinho Vilhena, que já tinha feito "Sandy e Júnior", mas estava na agência, para uma reunião com o Ricardo Waddington sobre "Coração de Estudante", porque eles queriam seis novos rostos para lançar. E pessoas que tivessem vivido em república, que tivessem um pouco dessa experiência. A única experiência que eu tinha era de morar com outras modelos em apartamentos. Fui meio no susto como se estivesse fazendo um teste de modelo. Eu nem fiz teste, na verdade. A gente sentou na frente dele, ele pediu para todo mundo falar um pouco sobre a sua vida e a minha vida era muito próxima da vida da minha personagem. A vida da minha mãe, na verdade. Ele se interessou muito e disse que achava que o papel era meu. Eu comecei a chorar, falei que eu não sabia fazer, que não tinha noção... Com 17 anos me mudei para cá, foi a primeira vez que a minha mãe ficou, e foi onde tudo começou. E era uma bagunça. Todos de 17, 18 anos em uma república, todos aprendendo a decorar texto. Foi a primeira vez de muita gente. Dessa geração, alguns ainda estão aí e eu não parei mais.
Em "Mulheres Apaixonadas" você viveu uma adolescente que era lésbica. No último capítulo vocês deram um selinho. O que você acha de esse assunto ainda ser um tabu hoje em dia?
Naquela época, nós demos um grande passo. Eu lembro que todas as personagens lésbicas que eram apresentadas eram explodidas, ou matavam, não deixavam acontecer de fato o relacionamento. Foi a primeira vez que foi assumido e que o público gostou e aprovou e queriam que ficassem juntas. É engraçado ainda ser um tabu. Eu não sei quando vai deixar de ser. A gente sempre precisa de temas. Sempre vai existir o tabu. Porque depois que se esclareceu a coisa do gay, vai ser o transexual, depois a travesti... A gente sempre vai ter coisas para explicar. E a gente sempre quer quase o impossível, depois a gente quer outra coisa. Hoje, o mais atual é o homem que vira hétero, porque não tem mais o que explorar. Sempre vamos estar atrás dos tabus, dos limites do que superar.
Quando você acha que ocorreu na sua carreira a transição dos personagens adolescentes para os personagens adultos?
A primeira vez que eu entendi a função do meu trabalho foi em "Mulheres Apaixonadas", que eu entendi que a gente podia transformar a cabeça das pessoas. Eu acho que "Da Cor do Pecado" foi um pouco mais maduro porque ela já era um pouco mais mulher, não era tão menina. "Como uma Onda", como atriz, tentei levar de uma forma mais madura, porque era a minha primeira protagonista e era uma personagem que estava saindo de casa, mais independente, por mais que já tivesse toda uma estrutura familiar. Eu testei mais. Mas "Duas Caras" foi onde eu me joguei. Eu estava tentando tudo o que eu levava para as minhas outras personagens, que era só intuição, e comecei a jogar um pouco com a técnica que eu havia aprendido com elas. Ao misturar a técnica com a intuição, é claro que eu errei muito. Em algumas cenas eu entrava gritando e saia gritando. Hoje, revendo algumas cenas eu faria completamente diferente, daria outras nuances. Mas é muito bom errar e se jogar, para saber o limite e poder amadurecer para fazer um trabalho como a Luciana, de "Viver a Vida", em que eu fiquei um mês e meio trabalhando só com o olhar. Foi um grande exercício como atriz.
A Luciana, além da carga dramática da personagem, tinha toda uma questão de apresentar para a sociedade o problema por que passavam as pessoas como ela. Isso foi um peso também?
Todas as personagens acabam que sempre têm uma coisa. Primeiro teve a mãe solteira, a segunda era uma homossexual, depois teve uma com um tumor no cérebro, depois a psicopata e a Luciana... Acho que talvez eu tenha uma certa vocação. Eu me envolvo, me jogo. Quando eu vi eu já estava tomada pela história dela, da própria Flávia Cintra [consultora da novela, que é paraplégica], que me ajudou muito. Eu fui para a casa dela, pude acompanhar ela tomando banho, alimentando os filhos, indo ao banheiro. Quando eu vi já estava muito mergulhada nisso tudo. Naturalmente, eu já fazia essa parte social com as pessoas com quem eu conversava. Eu aprendi muito e me sinto muito honrada de ter pego esse papel que, além de contar uma história, vem para ensinar muito. O retorno do público foi muito diferente. É um agradecimento muito profundo. É uma outra energia. Muitas pessoas ligavam agradecendo, porque não sabiam que podiam ter uma relação normal.
Levou um tempo até você "despressurizar"?
Um pouquinho. Foram nove meses no ar, a personagem foi muito presente durante a novela toda. Eu me preparei dois, três meses antes de a novela estrear, quer dizer, foi um projeto de um ano. Logo depois eu emendei no "Heleno", que é um longa com o Rodrigo Santoro, que era totalmente diferente. A novela terminou na sexta, no sábado eu já estava filmando. A primeira semana eu acordei torta, na posição da personagem. E ao levar isso para a terapeuta, comecei a entender que o corpo tem um delay, ele não sabe muito distinguir o que você está passando de verdade e o que é brincadeira. Não é igual à cabeça. Por exemplo, você está fazendo uma cena de discussão e sai no corredor e já pergunta como está a mãe da pessoa, mas a mão está lá tremendo. Porque você colocou adrenalina. Tem um tempo para poder abaixar. Um ano trabalhando nessa posição, naturalmente o corpo não entende. Fiquei seis dias internada com crise nos rins, que eu acho que foi uma somatização. Foi uma personagem para quem eu tive que doar um pouco mais.
Você consegue manter uma vida longe dos holofotes?
Eu moro em Itanhangá [zona oeste do Rio], que já fica um pouco mais distante de tudo. É como se fosse uma casa no interior. Tenho meus cachorros, meus gatos, pomar, acerola, limão, banana... É o meu santuário. Recebo os meus amigos, a gente toma um vinho, joga baralho. Gosto muito de dançar, faço balé há sete anos. E gosto de sair com os amigos para dançar à noite e fico até clarear. Acho que também não estou muito ligada nisso. Como eu trabalhei sempre com moda, com câmera, é quase um trabalho estar no Leblon almoçando e tomando um vinho e sendo clicada. Eu não me sinto muito à vontade. Não consigo fingir que uma câmera não existe, que não está apontada para mim. Eu prefiro ficar à vontade onde eu sei que vai estar tranquilo. Eu gosto de sair com os meus amigos para Santa Tereza, Lapa... Gosto de dançar forró e adoro tomar um chope na Lapa... E fico na rua com todo mundo, tomando na calçada. É disso que eu gosto.
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