Julho/2005
Quatro novelas em menos de três anos. O que significa menos de três meses de folga entre um trabalho e outro. Com esse ritmo frenético, fica difícil acreditar que Alinne Moraes não tinha a menor intenção de se tornar atriz. "Antes de fazer meu primeiro trabalho, aos 18 anos, atuar nunca havia passado pela minha cabeça. Eu sonhava em passar no vestibular para arquitetura", lembra ela,
momento antes de posar para as lentes do fotógrafo Felipe Lessa, em São Paulo,para a capa de UMA.
Mas, por obra do destino, Alinne, naquela época recém-chegada de uma temporada como modelo em Paris, levou suas fotos a uma agência, que também incluía atores em seu casting. Ao ver suas imagens, um diretor a convocou para um teste. A obra era Presença de Anita, da Rede Globo. O ano, 2001. Meio ressabiada, ela explicou que não era atriz, mas topou enfrentar as câmeras. Sua impressionante fotogenia a levou para os créditos de outra produção: a novela Coração de Estudante. "Fiquei apavorada, mas me disseram que a personagem, Rosana, seria alguém muito parecida comigo. Uma estudante jovem e sonhadora. Li um pequeno texto, fiz a prova de roupa e aceitei o papel no mesmo dia."
Desde então, não parou mais. Na sequência vieram a polêmica Clara, homossexual de Mulheres Apaixonadas, a surfista Moa, de Da Cor do Pecado, e, mais recentemente, a romântica Nina, de Como uma onda, de quem se despediu dia 17 de Junho,com o término do folhetim. "Se você me perguntar de qual gostei mais, não vou saber responder. Todas foram únicas, com atitudes próprias, diferentes das que eu porventura teria, se me encontrasse em situações semelhantes às delas. Acho que aí está a mágica de atuar: você vê a vida de forma muito mais ampla, cresce com cada trabalho", diz ela, olhos brilhantes, denunciando a paixão pela arte, que no início ela nem sonhava em nutrir.
EM RITMO ALUCINANTE
E a entrega é total. "Quando estou gravando uma novela, posso dizer que minha vida particular se restringe às horas de sono. O resto é dedicado ao personagem. Decoto texto em casa até as 2h da madrugada, durmo, acordo às 9h, sigo para o estúdio, ode fico até por volta das 21h. E começo tudo de novo. Você deve ter um equilíbrio muito grande, se conhecer bem, para não permitir que o personagem domine sua vida. E também é preciso ter cuidado para não deixar coisas pessoais de lado. Por isso, acho que o ator deveria ter uma folga de pelo menos três meses para se desligar daquele papel, ajeitar sua vida, antes de criar outro. Não foi o meu caso. Em 25 de janeiro completei três anos de carreira e quatro novelas. O que é um absurdo, porque emendei um trabalho no outro." Mas, por enquanto, nada de férias. Depois das gravações de Como uma Onda, Alinne se prepara para as filmagens de Fica comigo esta noite, baseada na peça homônima de Flávio de Souza. Ela divide o set com Vladimir Brichta, dirigida por João Falcão(veja texto ao lado).
Em casa, no Rio, Alinne respira arte ao lado do namorado, Cauã Reymond, que também estava no elenco de Como uma onda, mas em núcleo diferente do dela. "A gente acaba se ajudando. Enquanto eu tenho um lado intuitivo mais forte, ele domina muito a técnica. Assim, um completa o outro". O casal lindo, com vida em comum há mais de dois anos, é alvo predileto da chamada imprensa marrom, ávida por boatos e rumores. Nda que incomode Alinne. "Embora seja noveleira desde pequena, atualmente não assisto à tevê. Só vejo como está meu trabalho. Mas nada desses programas de fofoca em que se cria uma aura de perfeição e glamour em torno do artista, que não existe. Às vezes, um ou outro colega conta que saiu algo sobre nós. Em geral, uma notícia absurda. Eu não estou nem aí. Quanto menos falo e faço sobre isso, melhor", diz, com seu habitual tom grave e sereno, que faz esquecer o fato de ter 22 anos-só denunciados quando ela se derrete ao ver o gato preguiçoso, que dorme sobre uma almofada no estúdio do fotógrafo.
Capricorniana, nascida em 22 de dezembro na cidade de Sorocaba, a 87 quilômetros de São Paulo, desde cedo Alinne entendeu que a vida não era como os contos de fada que ela ouvia da avó materna. "Fui criada pela minha avó, já que minha mãe precisava sair para trabalhar e estudar. Ela era funcionária pública, ganhava um salário de cerca de R$ 400, mas nunca faltou nada na nossa casa, embora hoje consiga me dar conta do quanto a gente era pobre. Um exemplo disso é que jamais tomávamos refrigerante. E não porque fosse proibido, mas não tínhamos dinheiro para compar. E eu não achava isso ruim. Afinal, a maioria dos meus amigos também viviam assim", lembra.
ENTREGUE ÀS FANTASIAS INFANTIS
E, ironicamente, foi a vida mais simples que impulsionou a veia artística de Alinne. "Certa vez minha avó ganhou, durante um sorteio, uma bolsa de estudos para mim,em um colégio particular. Foi ali, quando tinha mais ou menos 10 anos, que passei a me dar conta da nossa condição financeira. Senti uma diferença muito grande em relação ao outro local em que estudava, uma escola pública. Foi uma época em que vivi num mundo de sonhos. Percebi um pouco o que era ser atriz, sabe? Por exemplo, eu criava histórias de que havia passado férias na Disney, que tinha uma rotina de princesa. Viajava pela imaginação. Aprendi a mergulhar na minha fantasia de criança. Também costumava passar horas conversando comigo em frente ao espelho.Acho que o dom artístico já existia naquela época. Não tinha brinquedos e os inventava. Uma coisa muito louca. E o engraçado é que, anos depois, durante uma conversa com uma professora de interpretação, descobri que aquele monólogo infantil era um excelente exercício de autoconhecimento. Posso dizer que a arte me levou à redenção"
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