Na TV, Alinne Moraes não foge de desafios. Coleciona personagens intensas, complexas, sofredoras. Na vida real, ela prefere permanecer no controle das emoções. Sua terapia? Passear com os cachorros, dançar balé clássico, limpar a casa e escrever poemas.
Você coleciona personagens complexas e intensas. Essa também é uma característica sua?
Eu me jogo de cabeça em tudo, no trabalho, na família, nas amizades e nos relacionamentos. Mas não sou tão dramática quanto minhas personagens. Sou muito mais calma que qualquer uma delas. Eu me conheço muito bem e posso escolher quais sentimentos quero para a minha vida. Por exemplo, conheci meu pai somente aos 22 anos. Ele e minha mãe se separaram quando eu era bebê. Durante meu crescimento, fiz questão de entender o ser humano e não julgar indevidamente, não criticar. Tento sempre me colocar no lugar do outro, o que é bom para a profissão.
Qual foi o momento mais importante da sua carreira?
Em Mulheres Apaixonadas, tive certeza de que seria atriz para o resto da minha vida. A personagem era polêmica, me fez entender o ofício e a responsabilidade do ator. Na época, minha mãe ficou até com receio de contar para a vovó sobre o trabalho. Ela nasceu na década de 1920, era do interior, com pensamentos mais conservadores. A Clara foi a primeira homossexual aceita pelo público. Para mim, ultrapassar essa barreira e vencer preconceitos significou muito. Enxerguei como a arte salva, questiona, não é apenas entretenimento.
Mudaria alguma coisa em seu passado, como o protagonista do filme O Homem do Futuro?
Deixaria tudo exatamente como aconteceu. É claro que, olhando para trás, entendo que em determinadas situações poderia ter agido com mais cautela ou pensado de outra forma. Mas para ter essa consciência foi necessário ter vivido cada instante.
Em contrapartida, no seu atual trabalho na TV, O Astro, são as revelações sobre o futuro que agitam a trama. Costuma ir a cartomantes ou algo assim?
Quando tinha 17 anos, fui a uma numeróloga e ela sugeriu que um "ene" a mais em meu nome só acrescentaria coisas positivas. Na época, a mudança foi publicada na capa da revista Capricho (da Editora Abril, que publica a ESTILO). Acabei comprando a ideia. Também já fiz mapa astral e as previsões sempre foram boas. Hoje essa fase ficou para trás. Não me preocupo com o futuro. Vivo o presente. Acredito que se estou feliz agora é porque estou no caminho certo.
O que faz para relaxar?
Minha meditação é o balé clás sico. Frequento aulas pela manhã, cerca de três vezes por semana. É onde me encontro, me mantenho em um mundo à parte, comigo mesma. Depois de um dia cheio, também é uma delícia chegar em casa, acender incensos, velas e passar algum tempo com meus cachorros, Aurora e Artur. Escrever também é uma forma de terapia particular. Anoto ideias em todos os papéis que estão ao meu alcance durante o dia, nas folhas com o roteiro de gravações, em guardanapos de restaurantes... Depois seleciono o que entrará para meu caderno de poesias. Já tenho vários.
O que a inspira para escrever poemas?
Observo o mundo e de que modo seus acontecimentos refletem dentro de mim. São pensamentos que coloco para fora. Também leio as obras de Pablo Neruda, Guimarães Rosa, Cecília Meirelles, Clarice Lispector e Vinicius de Moraes.
Gostaria de publicar um livro?
Está aí, tenho esse desejo. Já diz a máxima que antes de morrer devemos "plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho", não é mesmo? Também sonho em ser mãe, mas antes quero viajar para muitos lugares. Turquia, Marrocos, Machu Picchu, Patagônia chilena... Estou só com 28 anos, ainda tenho tempo para fazer tudo isso.
Não tem medo de envelhecer?
Acredito que é um processo natural. Como atriz, quero crescer, evoluir, amadurecer e esse caminho precisa estar no meu rosto e no meu corpo para que as pessoas se identifiquem e acreditem na história que estou contando. Minhas rugas virão - além de filha, serei mãe, avó e assim por diante. Sei que a beleza passa rápido e não quero ser sua escrava para sempre nem tentar paralisar o curso da vida em mim.
Mas você se cuida?
O balé ajuda a manter o corpo definido, alongado e com boa postura. Quanto à alimentação, como de tudo, mas evito refrigerantes e não tenho doces ou junkie food em casa. Se bater vontade, preciso sair para comprar. Aí paro para pensar duas vezes se realmente vale a pena. Quando eu completar 30 anos, pretendo contratar uma nutricionista para me ensinar a preparar pratos leves e saudáveis. Hoje só sei cozinhar o que minha avó me ensinou: arroz, feijão, carnes e massas.
Então é boa dona de casa...
Limpo a casa todos os dias, mesmo que a empregada tenha deixado tudo brilhando. É uma forma de terapia. Também sou bem organizada, gosto das coisas no lugar e tenho muitas caixas para guardar meus objetos.
Isso inclui o closet?
Confesso que ele já é um pouco mais fora de ordem. Mas é uma bagunça saudável porque consigo me achar facilmente e visualizar melhor as peças.
O que tem destaque atualmente por lá?
Estou em uma fase totalmente apaixonada por Valentino. Em fevereiro, comprei em Paris uma bolsa vermelha e um sobretudo que pode ser usado como vestido. Ainda espero a ocasião para estreá-los. Admiro também o trabalho do Pedro Lourenço, que conheci ainda criança, e da Gloria Coelho, para quem trabalhei muito como modelo. Uso até hoje corseletes assinados por ela que tenho desde os 14 anos.
Gosta de ir às compras?
Costumo ir a Paris uma vez ao ano. É quando renovo meu closet. Enquanto passeio, fico de olho nas vitrines e, se me apaixono por algo, levo. Sou fã do estilo das francesas e costumo reparar no que elas estão usando. Sempre gostei mais de observar do que ser observada.
Como escolhe o que usar em grandes eventos quando todas as atenções estão voltadas para você?
Gosto de surpreender e de estar poderosa. Quando fui apresentar o Emmy, em Nova York, no ano passado, escolhi um longo preto da Blumarine com decote, bem sensual. Já em Cannes, onde estive em maio, usei um vestido branco fechado com mangas compridas e aplicações de pérolas do Reinaldo Lourenço. Um modelo bem clássico. Imaginei que todos esperariam o estereótipo da brasileira sexy, colorida, e optei por outro caminho. Tento variar as inspirações nesses compromissos de maior repercussão.
Para essa seleção de peças, a experiência como modelo deu conhecimento e segurança?
Durante a adolescência, me alimentei de moda o tempo todo, em editoriais, viagens e desfiles. Mas demorei a digerir tanta informação. Talvez por causa da idade. Não sabia o que ficava melhor em mim. Só fui entender depois que me mudei para o Rio de Janeiro, com 17 anos, e me distanciei um pouco desse mundo. A partir daí comecei a construir meu estilo.
E como o define?
O Rio dá a tranquilidade para relaxar, tudo é fresco por aqui. Assim que cheguei à cidade, adotei o uniforme jeans, camiseta e Havaianas. Essa fase durou alguns anos, até eu começar a desvendar minha identidade fashion. E ela nada mais é do que o básico confortável. Mantive as calças jeans, mas abri espaço para vestidos fluidos, minissaias e sapatilhas. Agora, quando tenho uma festa, aposto em peças mais sofisticadas. Aprecio roupas que me despertam coisas novas. Não tenho medo de errar.








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