Para um ator ou atriz, preparar-se para fazer um papel pode ser um processo que leva semanas e até meses. Mudanças no cabelo, no físico, nos trejeitos... então, o que significaria interpretar dois personagens em um só trabalho? Alinne Moraes já pode se considerar expert nesta façanha. Depois de se dividir entre as "Lívias" de Além do Tempo, a atriz agora se fraciona entre Isabel e Dora em Espelho da Vida.
Ambas vilãs, mas em intensidades diferentes, as personagens acabam dando a oportunidade à Alinne de edificar o lado mais perverso dos papéis ao longo da novela. "Dora está no caminho de construção da vilania. Já Isabel é uma vilã mais completa, mais consciente, segura e de mão cheia", classificou a atriz em entrevista exclusiva à Vogue Brasil, que não nega a diversão de colocar em cena um toque de maldade: "Adoro as vilãs porque elas fazem de tudo, elas podem tudo! [Risos]".
A novela também oferece à ela a oportunidade de inversão de papéis. Ficou confuso? Te explicamos: aqui, Alinne foi a entrevistada, enquanto no folhetim a atriz tem a oportunidade de estar no papel de jornalista. Buscando referências naquilo que já conhece, o seu pai também foi uma boa inspiração apesar do pouco tempo de convivência - Alinne o conheceu com 22 anos e, meses depois, ele morreu. "Nos abraçamos, sentamos e mergulhamos num papo sem fim", relembrou sobre este primeiro encontro.
As boas experiências como Isabel e Dora, entretanto, vem com um ponto negativo: a saudade de casa. Com cenas gravadas em Mariana, em Minas Gerais, a atriz precisa ficar bastante tempo afastada do lar - a primeira vez desde que deu à luz Pedro, seu filho com Mauro Lima. "Pra matar as saudades faço vários bate-e-volta de 7 horas a cada 3 dias. Às vezes, faço isso só pra passar um único dia com meu filho", contou ela que se diz muito caseira e encontrou nas viagens uma forma de amenizar a falta de casa.
Mulher "muito realizada", como ela mesma se classifica, Alinne afirmou não ter vontade, no momento, de realizar procedimentos estéticos e falou sobre os seus lábios carnudos naturais, objetivo estético atual de muitas mulheres. "Acabou virando minha marca registrada", disse. Entretanto, nem sempre foi assim: na escola, a atriz contou ter passado por episódios de bullying e, mesmo assim, "nunca deixei de gostar da minha boca por isso. Eu sabia que era diferente".
Em entrevista, Alinne também falou sobre a sua atual relação com a cidade de Mariana, o engajamento pessoal em causas sociais e o seu momento com os fios naturais. Aos detalhes!
Em Espelho da Vida, você é Isabel, mas também é Dora. Como funciona essa dinâmica de interpretar duas personagens em uma mesma novela?
Além das épocas diferentes, 1930 e 2019, a Dora é mais jovem, solteira, cheia de sonhos e com caráter um pouco duvidoso, ou seja, está no caminho de construção da vilania. Já Isabel, é mais velha, independente, mãe solteira, ressentida e vingativa. Já é uma vilã mais completa, mais consciente, segura e de mão cheia.
Entretanto, esta não é a primeira vez em que você passa por esta dinâmica, já que também tinha duas personagens em Além do Tempo. Qual a grande diferença entre estes dois trabalhos em relação à dualidade de papéis?
Em Além do Tempo as fases não se misturavam, a primeira fase se passava em 1890. Os personagens morreram e reencarnaram em 2015. Agora, em Espelho da Vida, as duas fases são apresentadas juntas, em uma “timeline” alternada. A trama central está em 2018, mas pode-se acompanhar o passado através de regressões da mocinha da trama.
Agora, você está vivendo uma vilã. Gosta de interpretar esse tipo de papel? O que faz uma boa vilã?
Adoro as vilãs porque elas fazem de tudo, elas podem tudo! [Risos] Boas vilãs são inteligentes, carismáticas, sarcásticas. Algumas são cheias de mistério, sedutoras e sem limites.
Além de vilã, Isabel também é jornalista. Como uma pessoa que está acostumada a ser entrevistada à entrevistar, é diferente para você inverter os papéis, mesmo que para uma novela?
É mais fácil representar o que já conheço. Como tenho contato com jornalistas, então é observar, imitar é recriar um pouquinho. “Copy & paste”.
O seu pai, por exemplo, era jornalista. Apesar do pouco tempo de convivência, você buscou inspiração nele para viver Isabel?
Um pouco. Pesquisei e também me inspirei um pouco em tudo que vi e vivi.
Como foi esse encontro com o seu pai quando tinha 22 anos?
Ele entrou em contato, depois meu empresário verificou a veracidade, liguei e marcamos um encontro. Fui até sua casa, em Londrina. Minha irmã, que na época não me conhecia, abriu a porta, me levou até ele, nos abraçamos, sentamos e mergulhamos num papo sem fim. Me contou sua história, eu contei a minha e, finalmente, tivemos a oportunidade de estar juntos. Meses depois, infelizmente, ele morreu.
Algumas cenas de Espelho da Vida foram gravadas em Mariana. Este contato mais próximo com a cidade te fez ter ainda mais empatia com os desastres que aconteceram por lá há três anos?
Com certeza. Foi muito triste o que aconteceu lá. Um crime ambiental dos piores da história e sem um desfecho minimamente justo. Estamos gravando no centro de Mariana onde, felizmente, tudo continua intacto. É uma cidade linda e as pessoas muito gentis e hospitaleiras.
Com as gravações fora do Rio de Janeiro, você acaba passando um tempo longe de Pedro. Este é seu primeiro trabalho afastada do filhote? Como faz para lidar com a saudade?
É o primeiro trabalho longe de casa. Sou muito ligada à família, por isso, dormir longe é difícil pra mim. Pra matar as saudades faço vários bate-e-volta de 7 horas a cada 3 dias. Às vezes, faço isso só pra passar um único dia com meu filho.
A sua carreira é de muito sucesso e, na sua intimidade, tem um ótimo e duradouro casamento, além de um filho lindo, se sente uma mulher realizada?
Sim, muito.
Você é uma mulher engajada, que não deixa de se posicionar a favor de causas que acredita. Apesar disso, já se sentiu medo de apoiar algo nas redes sociais por temer represália?
Sempre existe uma parcela de medo na iniciativa de aderir à causas e se posicionar publicamente. Hoje em dia, isso faz parte da coisa, infelizmente. E quanto mais espinhosa é a pauta, mais reações violentas provoca. Sobretudo em redes sociais. As pessoas ditas “públicas” têm um apego, às vezes, desmedido ao número de likes, comentários elogiosos, “lacrações” e coisas do gênero. Muitas acabam tendo medo de polemizar e é compreensível. É como se aqueles boxes de comentários em sites de fofoca tivessem sido personalizados e trazidos as vaias para o dia a dia, para a rotina da celebridade. Essa possibilidade deu voz ao idiota solitário, ainda que anônimo. A vaia virou o hater. Embora seja difícil, é preciso distinguir o que é real do que é robô... ou fake, enfim. A onda conservadora se vale de uma aura moralista, mas desce muito baixo na guerra de narrativas. Difamação, linchamento, ofensas, mentiras e ameaças. Lamentavelmente, esse componente do medo faz parte desse universo. Por isso, é preciso estar junto nesse momento. Pelo menos enquanto for possível o agressor poder se esconder atrás de pseudônimos covardes ou lançar calúnias sem grandes consequências.
Vivemos em um momento em que as mulheres estão se unindo para denunciar casos sérios de assédio. Qual você acha que a importância destes denúncias?
A de começar a erradicar uma das várias práticas machistas entranhadas na nossa cultura. É impressionante como isso foi considerado um hábito aceitável durante tantos anos. E, na realidade, ainda é pra muita gente.
Falando um pouquinho de beleza agora. Atualmente, vivemos na “moda” do bocão, mas essa é uma de suas características marcantes desde sempre. Sempre aceitou ter os lábios mais carnudos ou isso era algo que te fez ter algum tipo de insegurança em alguns momento?
Sofri bullying na escola. Legal mesmo, não era, mas nunca deixei de gostar da minha boca por isso. Eu sabia que era diferente, mas, quando fiquei mais velha, acabou virando minha marca registrada. Passou a ser sexy. [Risos] E para outras, como Angelina Jolie, Kim Bassinger e Scarlett Johansson também! [Risos] Enfim, ter boca grande acabou virando moda e teve muita gente providenciando métodos “alternativos” no afã de aumentar seus lábios.
Aos 35 anos, já deu aquela vontade de fazer algum procedimento estético mais “radical”, mesmo não precisando?
Ainda não. Mas, no futuro, caso ache necessário, não vejo problema.
Com os fios mais naturais agora, cheios de cachos, como são seus cuidados com eles?
Hidrato pelo menos uma vez na semana, uso ativador de cachos e difusor pra definir ainda mais os fios.
Quem é a Alinne na moda? Você tem alguma musa inspiradora na hora de se vestir?
No dia a dia só consigo ser básica; jeans, camiseta e camisas. Quando saio a noite, gosto de roupas mais clássicas como vestidos, saias estruturadas... Adoro o estilo da Carolina Herrera, uma mulher muito elegante.
Site: Vogue
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