Revista da TV (O Globo - 01/11/2009)
Feito gente grande. No melhor momento
de sua carreira, Alinne Moraes se prepara
para enfrentar a reviravolta de Luciana,
que ficará tetraplégica em Viver a Vida.
RIO - O momento é de insegurança para Alinne Moraes. Apesar de brilhar em "Viver a vida" como a mimada Luciana - mocinha voluntariosa que sonha com o estrelato como modelo -, a atriz não esconde a ansiedade com a guinada de sua personagem, que ficará tetraplégica depois de um acidente, noticiado antes mesmo da estreia da novela. A cena, uma das mais aguardadas da trama escrita por Manoel Carlos, o Maneco, irá ao ar esta semana, mudando a trajetória dos principais personagens do folhetim.
- Vai ser uma reviravolta total e confesso que começou a bater uma insegurança forte, sabe? - fala com sinceridade a atriz, que conversou com a Revista da TV depois de um dia inteiro de trabalho, iniciado às 6h. - Para mim esse será um processo de transição e tem sido cada vez mais difícil embarcar nesse destino da personagem. Já me apeguei a ela e o público também.
Alinne explica que Luciana não deixará de ser quem é, mas acabará amadurecendo. Naturalmente. Envolvida com os preparativos para a atual trama das 21h desde maio, ela conviveu com a jornalista Flávia Cintra, de 37 anos, que ficou tetraplégica aos 18 após um acidente de carro. A atriz admite ter vivenciado sentimentos diversos durante sua pesquisa para a personagem.
- Primeiro estranhei, tive dó e aí comecei a questionar tudo. Mais tarde comecei a vê-la como uma heroína e só depois passei a esquecer a cadeira - relata Alinne, que já gravou cenas que serão exibidas bem mais adiante na novela: Luciana na cadeira de rodas durante sua lua de mel em Paris com o gêmeo Miguel (Mateus Solano).
- Andei por Paris na cadeira de rodas fora das gravações e percebi que ela se torna uma continuação da gente. É como se a roda fosse parte da pessoa. No começo a equipe me tratava como doente, mas depois de uma hora todos tinham se acostumado. Outros canais de percepção são abertos.
Vinda de uma ensandecida Sílvia, vilã-mor de "Duas caras" (2007), Alinne está em sua sétima novela na Globo. Infantil e passional até dizer chega, Luciana nunca foi uma menina má, explica.
- Tive muitas cenas de discussão, inveja e ciúmes e isso me preocupou. Afinal, eram sentimentos parecidos com o da personagem anterior. Mas logo deixei esse medo de lado. Luciana é mais jovem que a Sílvia e, por mais que seja mimada, é totalmente mocinha nos pensamentos - compara.
Lançada na TV em 2002, como uma mãe solteira em "Coração de estudante", Alinne conheceu o sucesso ao interpretar a jovem lésbica Clara, em "Mulheres apaixonadas", trama de Maneco, exibida no ano seguinte.
- Gosto de trabalhar neste tom mais dramático - diz a ex-modelo que passou a investir na carreira televisiva depois de fazer teste para viver
a protagonista da minissérie "Presença de Anita", em 2001. - Quando fiz o meu primeiro papel, de uma mãe solteira, pude entender o que minha mãe passou.
Filha predileta na novela, Alinne tem um histórico familiar delicado. Nascida em Sorocaba, interior de São Paulo, precisou aprender a lidar desde cedo com a ausência do pai, que se separou da sua mãe quando ela tinha apenas dois anos.
- Hoje, se minha mãe morrer, acabou. Não tenho mais ninguém. Sou filha única - frisa.
Com o pai, já morto, Alinne diz ter tido pouquíssimo contato.
Ele entrou em contato com a Globo mais ou menos na época em que eu estava no ar em "Da cor do pecado" (exibida em 2004) e nos aproximamos. Nunca fui de questionar muito essa minha história. Era assim e pronto - explica Alinne, que passou a fazer análise quando se fixou no Rio para trabalhar como atriz. - Foi aqui, quando fiquei sozinha, que comecei a questionar as coisas que antes eu não tinha capacidade de encarar de frente.
Menina que brincava de vôlei na rua com as amigas e levantava a rede para os carros passarem, Alinne viveu a infância e a adolescência cercada pelos cuidados da mãe e da avó, outra figura feminina importante em sua criação. O bocão, que segundo os fofoqueiros foi moldado com ajuda de procedimentos estéticos (mas é natural, jura), já rendeu a Alinne os mais maldosos apelidos na fase em que ela ainda vivia em Sorocaba.
- Era chamada de Beiçola e Bocão Royal (personagem lançado pela marca de gelatina). Também diziam que eu não precisava usar guarda-chuva, bastava puxar a boca - recorda Alinne. - Isso era cruel demais. Era muito tímida e sentava no fundo da sala junto com os repetentes.
A vida na cidade pequena ficou para trás no começo da adolescência, quando Alinne venceu um concurso e ganhou o mundo como modelo. Trabalhou no Japão e fez o circuito Nova York/Paris/Milão. Só não ganhou muito dinheiro porque a mãe ia sempre junto com a filha, o que significa gastos em dobro.
Praticante de balé há cinco anos, a atriz, que chega para ser fotografada com o calcanhar para fora do tênis, jura ser pouco vaidosa. E muito estabanada. Ela mostra os pés machucados e uma cicatriz atrás da perna, no joelho, para provar o que fala.
Outra característica de Alinne é uma certa introspecção e um pé muito atrás com quem ainda não conhece bem.
- Namoro muito a pessoa antes de me aproximar e virar amiga. Acho que é por conta de a vida toda só ter sido eu e minha mãe. Também preciso muito ficar sozinha, principalmente depois de um dia de trabalho. É como se tivesse na bateria, carregando. Em determinados momentos não quero ninguém por perto. Nem namorado, nem amigo - avisa.
Alinne adora escrever o que passa por sua cabeça em cadernos, mas não gosta muito de falar por achar que tem "uma certa dificuldade com as palavras".
- Acho que é por isso que sou atriz. Se tenho que aparecer num programa de TV sem texto eu me tremo inteira. Fico com medo de falar besteira - confessa.
0 Comentários:
Postar um comentário