23 de junho de 2012

Entrevista ao Globo Teatro

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“Dorotéia”, obra de Nelson Rodrigues que aborda a relevância da beleza, não podia ter ganho melhor intérprete. Alinne Moraes, uma das mais belas e talentosas atrizes de sua geração, protagoniza seu segundo espetáculo sob direção de João Fonseca. A peça foi apresentada no Rio pela primeira vez no extinto Teatro Phoenix, com Eleonor Bruno (1913-2004) no papel-título. “Dorotéia” foi escrita especialmente para a atriz, que manteve um romance com Nelson Rodrigues por dois anos ao final dos anos 40.

A peça conta a história de uma mulher que abandona a prostituição após perder o filho e procura a família como salvação. Chegando à casa de suas primas, depara-se com três figuras que a repudiam por conta de sua beleza e lhe impõem uma condição: que ela fique feia. Para interpretar as viúvas cheias de pudores, o diretor convocou os atores Gilberto Gawronski, Alexandre Pinheiro e Paulo Verlings, como uma forma de trazer o universo masculino para dentro da obra e transformar essas mulheres em monstros destituídos de vaidade e feminilidade. Completam o elenco os atores Keli Freitas, como a jovem Das Dores, e Marcus Majella, também interpretando uma mulher.


Na entrevista, Alinne conta como se transforma na personagem, revela os desafios de atuar no palco e diz que existe preconceito no meio artístico com a beleza.


O que mais te atraiu em “Dorotéia”?
Primeiro, por ser um texto de Nelson Rodrigues. Segundo, pela identificação com o texto. Fui modelo e trabalho com a beleza desde os meus 12 anos. É uma peça que fala justamente disso: da beleza, mas também do pecado e da hipocrisia.

O que este trabalho difere dos demais que você já fez? É o mais desafiador?
Difere-se por eu ser uma atriz que tem uma maior experiência na TV e no cinema. Dorotéia é minha segunda peça de teatro. É um trabalho bastante desafiador, assim como outros que fiz. Por isso, estive o mais aberta, presente e concentrada possível.

Já tinha trabalhado com o João Fonseca antes? Como está sendo a experiência?
Admiro o trabalho do João há muito tempo. Há sete anos, íamos fazer uma peça juntos, mas fui chamada pra um trabalho na TV Globo. Desde então, fiquei com essa vontade de trabalhar com ele e está sendo uma experiência incrível!

Como é a sua transformação corporal para viver esse personagem?
O balé me trouxe experiência e uma expressão corporal incrível. Me preocupo mais com isso do que com qualquer tipo de maquiagem. Existe um momento da peça em que preciso “construir” um rosto mais irregular, uma boca torta, por exemplo. Até usamos um pouco de maquiagem, mas a transformação se dá no comportamento mesmo, na linguagem corporal e na expressão. Tenho que sentir o que está acontecendo. Quando fiz a Luciana, por exemplo, em nenhum momento ficava me olhando no espelho e me sentindo uma tetraplégica. Tentava achar isso dentro de mim. É algo que vem de dentro para fora. E o teatro permite isso!

Como você encontrou a sua Dorotéia?
Me identifiquei em alguns momentos nas cenas. Depois que me tornei atriz, foi como se precisasse provar algo além da beleza. Vejo a Dorotéia tentando se enfear para não instigar o desejo alheio. Foi através dessa identificação que comecei a encontrar a minha Dorotéia.

Esse é o seu segundo espetáculo. Como é sua relação com o teatro?
Meu primeiro espetáculo foi em 2007 com o João Falcão e fomos muito bem recebidos pelo público e pela crítica. Nessa primeira experiência, por mais que tenha sido lindo como primeira apresentação, ainda me sentia pouco confortável em cena, ainda me incomodava o tempo e o silêncio do teatro. Precisava chegar neste lugar. É um novo desafio!

Você já sofreu preconceito por sua beleza? Teve que provar que é boa atriz e não apenas mais uma mulher bonita?
Não sofri tanto preconceito no início da minha carreira. Fui muito bem recebida. Mas claro que vejo isso acontecendo à minha volta. Ainda hoje as pessoas costumam associar beleza à burrice. Dependendo de como se lida com a própria beleza, ela pode se tornar um fardo. Acabei caindo na minha primeira novela meio que por acaso, porque era modelo. Minha formação como atriz foi trabalhando. Depois é que fui estudar artes dramáticas. Foi uma adequação. Tenho de deixar a beleza de lado e preciso me tirar de cena para que a personagem possa existir.

Globo Teatro
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