1 de outubro de 2003

Revista Capricho:Uma nova Alinne

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Alinne Moraes muda de nome, assume a paixão por Cauã Reymond - "Ele me inspira a ser eu mesma" - e diz que agora está se tornando uma mulher mais segura.

Outubro/2003

Você vai precisar de meia página para publicar o meu nome. É Aline Cristine Dorelli de Magalhães e Morais. Morais com 'i', mas eu acabei de mudar para 'e'. Faz parte das mudanças que estou preparando para o ano que vem. Estou me transformando numa nova mulher!" Dá gosto ouvir Alinne Moraes, 20 anos, contar sobre os planos de ano novo quando o velho ainda tem quatro meses pela frente. Ela tem aquele entusiasmo típico de quem acabou de descobrir as delícias da vida. "Ah, e vou contar em primeira mão para a CAPRICHO: também dobrei o 'n' do Aline. Em 2004 serei Alinne Moraes." 

Essa história de mudar de nome foi uma conseqüência da fama. O escritório do empresário dela não vencia atender ligação de jornalistas perguntando se o sobrenome dela era com "e" ou "i". "Mesmo quando eu falava que era com 'i', acabava saindo com 'e'. Um dia, resolvi ouvir uma numeróloga", continua Alinne. A numeróloga explicou que Alinne Moraes era mais forte, praticamente um mantra, tinha uma ligação com a profissão de atriz e trazia sorte. Encaixou perfeitamente na nova fase de Alinne. 

A nova fase, na verdade, começou há um ano e meio, quando ela deixou a carreira de modelo para estrear na tevê como a Rosana, de Coração de Estudante. Mas passou a fazer mais sentido há um ano, quando começou a namorar o ator Cauã Reymond, 23 anos. Ao lado dele, se sente mais inspirada a ser ela mesma. Diz que o namorado, com quem divide apartamento no Rio, a ajuda a se conhecer melhor. Nesta entrevista, feita no escritório do empresário dela, no dia 17 passado, Alinne fala também de sua personagem Clara, de Mulheres Apaixonadas, da vida de modelo e, principalmente, dessa nova mulher que está desabrochando. Você vai entender por que o Cauã se amarrou.


    
Você soube desde o começo que seu papel iria marcar a história das novelas?
Não. Eu tinha a informação de que era uma personagem homossexual. Não era a primeira vez que o tema era mostrado numa novela, mas a abordagem desta vez seria diferente. O Manoel [Manoel Carlos, autor], colocou a Clara e a Rafaela no ar sem definir que elas eram um casal. Ele foi criando a trama delas na medida em que foi sentindo a aceitação do público. Quando ele deixou claro que as duas eram namoradas e se amavam, eu comecei a sentir o tamanho da responsabilidade que tinha nas mãos.

Você acha que a audiência está menos preconceituosa em relação ao homossexualismo?
Ainda tem muito preconceito. Não se muda, assim, de uma hora para outra. Nesse caso, o público aceitou porque o autor criou uma armadilha. As pessoas foram conhecendo as garotas, se envolvendo com os problemas de família delas, e quando viram já estavam gostando delas. Mas este retorno demorou uns quatro meses. O autor teve a sutileza de não apresentar, digamos, a sacanagem desde o começo. A gente não está debatendo como é que duas meninas se beijam, como elas transam. A gente está discutindo a dificuldade de as pessoas se aceitarem. O grande problema é o preconceito, não a homossexualidade.

Esta é a sua segunda novela. Da Rosana de Coração de Estudante para cá você deu um grande salto. Acha que está preparada para ser uma protagonista na próxima?
Não, ainda não. Eu nem estou conseguindo pensar em outro trabalho. Tenho muitas cenas da Clara ainda pela frente. É muito difícil fazer esta personagem.

Em que momento da sua vida você descobriu que podia ser atriz? Você se preparou para isto?
Eu? Menina, eu lá no interior sempre achei que as pessoas que optavam por se atriz eram abertas, conversavam para caramba. E eu sou totalmente tímida. Quando eu estou ao vivo num programa eu não consigo formular uma resposta. No VMB eu estava tremendo, com o maior medo. Sabe quando você sofre um acidente de carro, quando acaba você não se lembra de nada? Foi assim que eu me senti quando acabou. Parece que eu não estive ali, não lembro de nada.

Jura? E antes de subir ao palco, quanto tempo costuma durar este medo?
Ai, eu fico um dia com dor de barriga, a mão suando. Quando eu era modelo eu só fazia fotos. Fiz poucos desfiles porque sou baixa, mas ficava muito nervosa porque era com público, era ao vivo. Em testes de comerciais eu nem ia porque morria de medo, de vergonha.


E como é que você foi parar na Globo?
Com 18 anos, quando eu voltei da Europa onde trabalhei desde os 14 como modelo, eu resolvi levar umas fotos na minha agência em São Paulo. Cheguei lá e dei de cara com o Avancini Filho, que estava escolhendo meninas para um teste para A Presença de Anita. Ele gostou de mim, perguntou se eu fazia teatro e me chamou para fazer o teste da Anita. Ele falou que eu não tinha nada a ver com o papel, mas que tinha sido bom me conhecer. Quatro meses depois, me ligaram da Globo e já tinham comprado uma passagem para eu vir ao Rio conhecer o Ricardo Waddington. Ele ia escalar o elenco de Coração do Estudante e só queria me conhecer.

Nesta fase, como é que estava a tua vida, como é que você se sentia, o que queria?
Eu trabalhava desde os 12 anos e aos 18 já me sentia cansada, com vontade de mudar, fazer arquitetura, fotografia, artes plásticas, alguma coisa por aí. Eu vim falar com o Waddington sem saber quem ele era. Quando eu entrei no Projac e vi alguns artistas, cai em mim. Foi uma conversa de 1 hora e meia. Eu contei da minha vida, que meu pai não tinha sido um pai presente. Ele então me disse: "Vou te dar um papel de uma mãe solteira, uma menina que tem muito a ver com a tua vida." Eu comecei a chorar de felicidade. No mesmo dia fiz prova de roupa e um mês depois estava morando no Rio.

A sua mãe veio junto?
Não, nós decidimos que cada uma ia tomar o seu rumo. Foi como cortar o cordão umbilical. Até então, ela tinha vivido em minha função, lógico que lá na Europa ela fez alguns cursos, ela é artista plástica. Mas ela precisava ter a vida dela. Então, ela voltou para Sorocaba.

Essa independência não era um desejo seu? A maioria das meninas sonha em viver assim.
Era uma curiosidade. Mas é muito difícil ter obrigações, responsabilidades. Até então, eu trabalhava desde os 12 anos mas a cabeça era ela.

Você não se sentia sufocada com ela decidindo tudo?
Não, porque ela me acompanhava, mas me deixava livre para tomar as minhas decisões. Sempre foi a minha força. Eu devo tudo a ela.

E você teve alguma preparação para fazer a Rosana?
Eu fiz um mês e meio aqui. Mas um mês e meio não é nada. Acho que deu certo porque eu sou muito intuitiva e sensível. Eu tenho que viver aquilo de corpo e alma. Não há técnica que me faça passar mais verdade do que acreditar no sentimento da personagem.

E na vida, você também tem necessidade de fazer sempre este mergulho na verdade?
Eu estou me conhecendo agora e essa carreira está me ajudando, ela mudou a minha vida. Antes, a minha vida era ser à moda das outras pessoas. Eu não sabia quem eu era, o que eu queria ser, como eu ia me vestir. Estou aprendendo hoje a não ter vergonha, a assumir o que eu quero, a me relacionar com os outros. Antes, eu gostava do amarelo porque o amarelo estava na moda. Este é que é o grande problema das meninas que começam muito cedo na carreira de modelo, sabia? Porque as pessoas nem conhecem a sua essência.

A carreira de modelo limita muito?
Ela me deu muitos instrumentos para entender a vida. Graças a ela eu conheci muitas pessoas, viajei para muitos países, tive contatos com outras culturas.

A carreira de modelo é muito dura não é?



Olha, se eu não tivesse a minha mãe comigo, teria sido muito mais. As pessoas entram para esta carreira muito novas, elas não sabem o que elas querem, o que são. E estão numa época de ego, de beleza. Eu não sabia o que eu queria. Hoje que eu descobri.

Foi você quem quis ser modelo?
Sim, é óbvio que você está numa roda, tem 10 anos e todo mundo começa a falar que você é bonita, fotogênica e você tem amigas que se envolvem com a carreira de modelo. Eu entrei para este mundo e gostei. Era um mundo onde eu não era o patinho feio. Porque na escola eu era muito feia, não tinha um peitão, uma bundinha. Eu e minha mãe batemos em portas de agências.

Você disse que seu pai não foi muito presente na tua vida. Como é esta história?
Meus pais se separaram quando eu era muito menina e meu pai, que é jornalista, mudou-se para Londrina (PR). Lá ele constituiu outra família e obviamente não podia estar presente diariamente. A gente não era uma família classe alta, que podia pegar um avião e ir ao encontro um do outro na hora que queria. Mãe e pai é aquele que está presente. Mas hoje em dia é assim.

Sua mãe teve muitos namorados? Você se dava bem com eles?
Nada. Minha mãe nunca foi namoradeira...

Já a filha?
Também não. Juro. A vida inteira eu só tive dois namorados [o modelo Vergniaud e o Cauã). O Cauã e eu éramos da mesma agência, nós nos conhecemos quando eu tinha 15 anos. Mas fomos nos encontrar como homem e mulher agora, há um ano.

E como foi este encontro?
Eu nunca fui namoradeira, mas sei paquerar e quando quero eu vou atrás. Eu gosto de namorar, sou feliz se estiver apaixonada, então, eu busco o amor, busco estar com alguém. Eu estava sozinha fazia quatro meses e já tinha esbarrado o Cauã, acho que no Projac. Então, eu tinha o telefone dele e mandei uma mensagem para ele me ligar. Aquelas coisas do tipo? "Me liga, gatinho". Ele nunca ligou. Passou um mês e eu estava no escritório do meu empresário quando ele entrou. Que vergonha! O Cauã tinha um trabalho, o nosso empresário era o mesmo, ia com ele e me chamou para ir junto.. Foi tudo tão rápido que quando eu vi estava indo com eles. O Cauã fez o trabalho e depois saímos para jantar. Desse dia em diante nunca mais nos separamos.

E o que ele falou da sua mensagem?
Ele é tímido também e nós só fomos falar da mensagem três dias depois. Ele disse que não ia responder mesmo, que estava esperando a gente se trombar. Ele é de deixar a vida levar ele. Para ele tudo tem de ser mágico.

E desde o começo vocês já se apaixonaram? Como foi que acabaram indo morar juntos?
Ah, no começo foi muito difícil. A gente se gostava, queria estar junto mas nenhum dos dois admitia. Então, a gente via que estava se gostando, mas não queria e acabava brigando. Além do mais, nós brigamos muito porque somos pessoas muito diferentes, que pensam diferente. Foi duro até entender que a gente se ama e quer estar junto apesar das diferenças. Eu aprendi isso com ele.

O que vocês têm de tão diferente?
São tantas diferenças. A gente pensa diferente. Enquanto ela fala que uma coisa é amarelo eu falo que é roxo. Mas não é por isto que a gente não se ama. Ele é mais do dia, eu sou da noite. Não sou baladeira, mas gosto de juntar os amigos em casa e ficar conversando ou jogando baralho até as 4 da madrugada. O Cauã gosta de dormir às 11 da noite porque gosta de surfar cedo. Ele vive me acordando as 8 da manhã para ir andar de bicicleta com ele. Eu gosto de acordar as 11, 11h30. Daí ele vai e eu fico dormindo. Eu fui criada de um jeito que eu não tinha hora para nada. Ele gosta de ter os horários dele planejados.

Vocês ainda brigam muito?
Hoje, não. Hoje a gente discute muito, parece A Dama e o Vagabundo. Mas estamos sempre juntos. A gente já passou daquela fase de um querer mudar o outro.

Quanto tempo vocês levaram para decidir morar juntos?
Eu morava sozinha aqui no Rio, com meus cachorros e meu passarinho. Ele morava com os avós. A gente ficava sempre ou na casa de um ou de outro. Quando a gente viu já estava dividindo as contas e foi acontecendo.

É a primeira vez que você mora com um namorado. O que é que muda na relação?
A intimidade é gostosa, mas não é fácil. É difícil você aceitar os teus defeitos e muito mais os do outro. Não é fácil a convivência. É por isto que eu e o Cauã fazemos questão de cada um ter o seu espaço preservado. Ele tem o escritório onde ele lê. Enquanto isso, eu fico vendo televisão. Agora, cinema, a gente vai junto. DVD também a gente vê. Ele chega do trabalho e gosta de pôr uma música lenta, gosta de meditar. Eu sou mais agitada. Na verdade, ele tem a mesma ansiedade que eu, mas a dele é controlada.

O Cauã nos disse que adora te dar presentes. Quando ele vai comprar uma roupa para você ele te leva junto?
Não, ele nunca me levou e sempre acerta. Eu é que vivo errando os presentes dele. E ele é muito sincero. Fala que não gostou. Ele tem uma franqueza. Agora ele acerta sempre, acha as coisas mais incríveis.

Vocês também têm afinidades. Por exemplo, estão vivendo um momento profissional parecido.
Claro e eu gosto dele porque ele divide comigo todos os momentos, está crescendo junto comigo, se conhecendo também, como homem eu o admiro, acho ele gostoso, lindo.


Então, é isso o que é preciso para ter uma relação feliz?
É preciso querer muito. É preciso acordar todo dia e saber que é o cara que está do seu lado é o cara com quem você quer ficar. A partir do momento em que você entende isso, você vai pensar para falar ou fazer qualquer coisa. As pessoas têm que entender que não existe a pessoa perfeita. Muitas vezes a gente acha que o problema tá no outro e está na gente. Então, você termina um relacionamento, entra em outro e dali a um mês vai ter de se separar de novo.

Você faz terapia?
Estou fazendo há uns seis meses e foi o Cauã quem me incentivou. A terapia está me ajudando a separar o que eu quero para mim e o que eu não quero e tenho de jogar fora.

O que é que você não quer mais?
Não quero mais me enganar. Antes eu fazia mais para os outros do que para mim. Eu me machucava para não machucar o outro. Eu não conseguia dizer não, porque eu tinha insegurança, medo de ser eu mesma.

O que você quer?
Eu quero estar atuando, independentemente de qualquer coisa. Estou apaixonada pela minha carreira.


Alinne tem 1,73 m e pesa 53 kg. Diz que está um pouquinho só, uns dois quilos, acima do peso da época de modelo, mas tanto faz. Ela não tem a paranóia da balança e sabe se alimentar. Come de três em três horas, seis refeições ao dia. Fazia caminhadas, capoeira e hidroginástica. Hoje, só grava a novela. Enquanto eu escrevia este texto, Aldo Macedo, o nosso produtor gráfico, chegou impressionadíssimo e disse: "Você não acredita. Peguei as fotos da Alinne para dar um tratamento e não precisei fazer absolutamente nada, nem um retoquezinho na pele. Ela é perfeita."


LESBIANISMO
Alinne sabe que o casal que forma com Paula Picarelli na novela das 8 tem grande importância e vai marcar a história das novelas - afinal, é a primeira vez que duas garotas se amam e namoram no horário nobre. Mas sabe mais ainda que a luta contra o preconceito é maior. "É por isso que a história da Clara e da Rafaela é legal, porque questiona o preconceito, a aceitação, não a homossexualidade em si." Alinne torce para que Clara e Rafaela tenham um final bem feliz, mas acha irrelevante se vai rolar beijo ou não. Quanto ao beijo na boca que o público esperava que ela e Paula trocassem no palco do VMB, diz: "Como é que eu ia beijar a Paulinha na boca se eu tenho namorado? Eu namoro é o Cauã!"



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