Reza a lenda que se tudo correr conforme a previsão do calendário
maia, o mundo não passa do próximo dia 21 de dezembro. De uma coisa
podemos ter certeza: a série “Como aproveitar o fim do mundo”, que
estreia nesta quinta-feira, às 23h05m, não vai passar. É que os
roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado marcaram exatamente para o
dia do suposto apocalipse o último episódio da trama que acompanha a
tentativa de um casal de realizar seus desejos mais malucos antes que
tudo se acabe.
—
O fim dos tempos é um pretexto para falarmos das
pessoas e das relações entre elas, os temas que nos interessam.
Personagens que acreditam que o mundo vai acabar chegam a extremos que
não chegariam numa situação normal. Além disso, existir uma data exata
para o mundo acabar é uma oportunidade sensacional. Faremos uma contagem
regressiva, de episódio a episódio — explica
Fernanda.
Na
história, Kátia (Alinne Moraes) é uma funcionária de departamento
pessoal um tanto doida, romântica e cegamente confiante em todo e
qualquer tipo de esoterismo. Já Ernani (Danton Mello) é o típico cara da
contabilidade, certinho e estressado. Na pausa para o cafezinho no meio
do expediente, a dupla se conhece e ela acaba o convencendo de que o
mundo vai acabar. E eles têm pouco tempo para colocar em prática tudo
que já quiseram fazer na vida.
Ao contrário do papel, Alinne diz
que, se o mundo fosse mesmo acabar, não sairia por aí cometendo
loucuras. Mas isso é só porque a atriz já diz viver como se não houvesse
amanhã:
—
Tenho poucos medos na vida e sempre me dei liberdade de
ouvir minhas vontades e loucuras mais íntimas. Posso dizer que, se o
mundo acabasse agora. estaria realizada. Claro que sempre existirão
coisas a experimentar, como saltar de paraquedas e conhecer países que
ainda não visitei — lista.
A relação de amizade se transforma em
paixão, o que deixa tudo mais complicado e levemente triste. Pouco vista
nas séries da dupla de roteiristas, essa melancolia é um dos grandes
trunfos do texto na opinião de seu diretor de núcleo José Alvarenga Jr.,
que trabalha com Alexandre e Fernanda desde “Os normais”.
—
O
diferencial dessa série é que tem sentimentos. O Alexandre e a Fernanda
sempre abordaram a comédia e a crítica de costumes com muita pertinência
e agudez. Mas, aqui, falam da cumplicidade dolorosa pela qual esse
casal improvável passa. Tem uma tristeza que permeia o humor. Acho que
esse é um grande avanço desse texto e do nosso trabalho juntos. É
difícil fazer as pessoas rirem e ainda mostrar uma emoção que gere
reflexão — pondera
Alvarenga, destacando mais uma qualidade da atração: —
Outra coisa muito legal é o contraste, porque só eles acreditam que o
mundo vai acabar. O resto das pessoas continua agindo normalmente. Isso
acaba acentuando essa loucura deles.
Alexandre Machado destaca
que, mesmo tendo mesclado emoção à comédia, uma coisa não mudou em
relação ao estilo da dupla que já escreveu, entre outras séries, “Os
aspones”, “Minha nada mole vida” e “Macho man”: o formato de humor que
é, nas palavras dele, “rir de nós mesmos e não dos outros”. Para os
atores, esse riso meio triste que o texto pretende provocar também foi
uma tarefa difícil.
—
Acho todo fim melancólico também. Nunca fiz
nada parecido e nem nesse formato, o que de fato me instiga. É uma
personagem que corre contra o tempo para realizar tudo que deixou de
lado. É um grande aprendizado dar vida à Kátia. Ela é muito rápida, me
obriga a estar em alerta todo o tempo, um tempo de atuação totalmente
novo pra mim — descreve Alinne.
Não foi à toa, portanto, que
diferentemente da maioria das produções de Alexandre e Fernanda, os
protagonistas escolhidos não são comediantes. Alvarenga conta que foi
uma opção dele trazer para a história atores com uma grande carga
dramática. Alexandre completa, dizendo que, acima de tudo, os
personagens não são pessoas engraçadas.
—
Pelo contrário, ele é
sério, e ela tem um senso de humor esquisito. Por isso, precisamos de
atores inteligentes que transitem bem entre os diferentes climas
propostos. Não é uma comédia rasgada, é meio que uma “dramédia”, como os
americanos chamam — conceitua o roteirista.
A versatilidade na
interpretação será mesmo necessária, uma vez que na lista de desejos dos
personagens estão desde tomar banho de piscina pelados até denunciar as
falcatruas da empresa onde trabalham, passando por dirigir um Porsche
furando os sinais amarelos e comemorar o gol na final da Copa do Mundo
de 2002 mais uma vez. Essa variedade de situações proposta pela
narrativa também dá um frescor à direção, na opinião de Alvarenga, que
vê aí uma “salvação” para as séries brasileiras.
—
Nos últimos
anos, as novelas adotaram uma linguagem que as aproximou muito dos
seriados, sendo às vezes até superiores. Para nós, o desafio maior é
oferecer uma diferença não só na abordagem, mas no visual. Por isso,
acho que a tendência é que as séries fiquem cada vez mais parecidas com
cinema. Nosso programa tem uma cara cinematográfica de ponta a ponta.
Tem silêncios, pausas, mas também uma velocidade, porque eles precisam
viver tudo antes de acabar — defende
Alvarenga.
Tanto Danton
quanto Alinne apostam que esta será a chance de mostrarem um tipo de
performance que os espectadores não estão acostumados a vê-los fazer.
Apesar de serem quase opostos em cena, os dois têm características que
os une, na opinião do ator:
—
São dois solitários, que vivem seu
universo, no seu mundo. O meu personagem mostra um pouco mais essa
solidão. Eles se completam e fazem bem um para o outro.
O Globo - Revista da TV
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